Sejam todos muito bem vindos ao Conchas, este restaurante imaginário, literário, desavergonhadamente utópico em um mundo em franca derrocada sócio político ambiental distópica.
Hoje, vocês sabem, costuma ser a folga dos cozinheiros, a lunes de fiesta, ou a segunda feira azul. O salão vazio desta vez vai virar uma pista, para um baile. Estão prontos? Cinco, seis, sete oito e…
Esta que vos fala está em um corpo no mundo. E, com muita alegria, posso dizer livremente: tenho um corpo que baila; que dança conforme a música, que rebola nas marés dos afetos e que elegeu o forró como ritmo de aprendizado, estudo e deslumbramento há três anos. E, agora, me sinto inteira para compartilhar alguns vislumbres, pois foi no feitio da dançarina que a cozinheira, a crítica interior e a escritora puderam dar dois passos para trás e, quem diria, aprender. Ou relembrar.
Forró.
É infinitamente insuficiente chamá-lo de dança ou até mesmo de estilo musical.
O forró é uma expressão cultural brasileira, uma nave para dois, um espaço seguro de experimentação do próprio ser e estar no corpo, é ritmo, técnica, conexão e musicalidade.
É lugar de encontro, de risada, de abraço. É, também e mais uma vez e ainda, uma ação de resistência diante da opressão, da negação do caos, do cinismo extremista. Eu não posso mudar o mundo, mas eu balanço, canta a Juliana Linhares em seu excelente Nordeste Ficção. E eu faço coro.
Mas o que é ou não forró?
É Jeneci, o Marcelo, contando a história de seu pai Manoel, que chega nesse outro entendimento, e eu concordo demais:
Dá para tocar tudo na sanfona, e assim vou tocando a vida. De Pabllo Vittar à Luiz Gonzaga, de Caetano Veloso a Maravilhosa Mendonça. É tudo forró!
Cabe muita coisa no espaço de uma dança. Embora a mente seja mentirosa, o corpo é sempre honesto. Não acredita? Tenta então gostar de uma coisa de comer à força, ou por decreto, para agradar ou parecer bacaninha.
Eu tentei com o pequi ( e com tanta gosto, cheiro, gente e lugar). Não dá. O corpo, irredutível em sua fluidez, não permite essas mentiraiadas.
Mas, em compensação, o que o corpo acata, ele mostra.
O que deseja, ele pulsa.
O que ele tem permissão de expressar, ele dança.
Tanta informação é passada no tempo expandido ou contraído de um xote que se dança de coração colado, mãos dadas, olhos fechados.
E eu tenho testemunhado almas acessas, afetos refeitos e muita música boa nesta jornada. Me sinto feliz e grata por ter começado, mas principalmente por me permitir continuar.
Tenho sentido cada vez mais vontade de borrar os contornos das centelhas que me movem e comovem neste mundo. Vocês vem dançar comigo nesta nova fase? É Primavera, quem sabe chove, e eu estarei lá, dançando e cantando na chuva, acompanhada pela sinfonia estridente das cigarras…
A dança é um espaço incrível pra pensar a vida ne... e a dança a dois... Muito forró pra gente nessa primavera 🙏🍃
quem ouve um forrozinho e não tem vontade de dançar está morto por dentro...