Sejam muito bem vindos ao Conchas, sua taberna imaginária que abre as portas na sua caixa de e-mail. Feliz Halloween, feliz Diwali, feliz dia.
Para ser, é preciso ( também) não ser. Quem me ensina é a Lua, que, em toda sua exuberância, percorre a cada 28 dias sua roda de encher e esvaziar-se. Assim é a Natureza, inclusive a íntima e feminina. Uma mulher, para ser, precisa não ser. Uma bruxa também não o é, sendo.
Explico. Nossa gigante prateada inspira a humanidade e em especial as mulheres desde tempos antigos, outras eras em nada parecidas com a que vivemos agora. É n movimento crescente- cheia- minguante que se espelha o conceito da deusa tríplice: donzela - mãe - feiticeira.
A donzela é alegre, espevitada, rebelde,altiva, guerreira e geniosa, fala o que pensa. É a adolescente em nós, que não gosta de ser contrariada, mas que oferece energia para enfrentar as intempéries da jornada.
Na mitologia dos orixás, Oiá é esta mulher, a senhora das tempestades, raios e trovões. Tem o cheiro das matas orvalhadas, é exímia caçadora e é enfeitada pelos vagalumes de Odé. Está associada ao farfalhar de borboletas carmins.
Xangô adora Oiá, sua companheira de conquistas e batalhas. Dizem que quando alguém queria algo de tal rei, pedia primeiro para Oiá, que gosta muito de cozinhar e também de comer, principalmente os bolinhos de fogo, àkàrà - acarajés. Branco e vermelho são suas cores.
A mãe é a face supostamente plena da Deusa pois leva no ventre seu fruto; fértil, potente, sensual, vaidosa. Esta é Oxum, rainha das águas doces das cachoeiras e a face aclamada e fascinante da Lua.
Esperta, diplomática, é a esposa mais rica de Xangô, coberta pelo ouro, com suas pulseiras - idés- que imitam o som da água. Cheia de jóias, vive a se mirar no seu espelho dourado, chamado de abebé. Oxum é uma exímia cozinheira, e conquista o rei pela barriga.
Mas a lua tem uma terceira face, a feiticeira, a anciã, aquela que sabe, mas que não vai te contar. Obá é misteriosa, veste-se de marrom, é uma exímia guerreira, a quem é atribuído o culto de Elecó, uma sociedade restrita, onde apenas mulheres podem participar dos rituais. É a representante suprema da ancestralidade feminina, guardiã dos segredos da criação. Uma alquimista poderosa, defende as causas que considera justas, não desperdiça sua energia e enxerga para além da trivialidade cotidiana.
A característica de velhas feiticeiras está ligada à concepção africana de que a sabedoria e acúmulo de poder só vem com a idade e com a experiência de vida. Eu ouso acrescentar que não é suficiente envelhecer, mas fazer jus aos próprios cabelos brancos. Ser generosa com o que se aprende, multiplicar o conhecimento.
O poder feminino reside no entendimento do equilíbrio do próprio poder criador: para trazer o novo, é preciso destruir o velho. Vida - morte - vida. O poder gerador e ceifador. A anciã sabe apanhar os recém- nascidos, assim como sabe acarinhar os mortos.
As feiticeiras representam o poder místico da mulher em seu duplo aspecto - protetor e generoso/ perigoso e destrutivo. Toda mulher possui os dois aspectos. Tudo é sagrado.
Nesta auspiciosa data, diante de um céu escuro da lua Nova em Escorpião, eu te convido a acolher estes arquétipos, e ofereço o entendimento de que viver cada uma dessas fases é integrar.
Toda mulher é bruxa.
E ser bruxa é existir como mulher em um mundo sempre disposto a nos questionar, nos eliminar, desobedecer nossas necessidades, colonizar nossos corpos, matar nossos filhos.
Não sei como chegamos ao ponto de temer e maldizer, temer e as bruxas e não aqueles que as queimaram, mas aqui estamos.
E aqui, vou recorrer aos indianos ( “oriente-se!") que, hoje, diante da escuridão, começam a celebrar o Diwali. A palavra Diwali é derivada do sânscrito dipavali, uma “fila de luzes”.
As luzes são a chave para este festival de cinco dias, tanto metaforicamente quanto literalmente. A festa celebra o triunfo da luz sobre as trevas, do bem sobre o mal, e as luzes são o seu principal elemento.
Diante de um mundo que não vacila em apagar os feitos, a história e as conquistas de grandes mulheres - bruxas - eu te rogo: acenda sua luz. Faça barulho. Cozinhe seus quitutes, espalhe suas palavras, reze seus cantos aos quatro ventos, dance com o fogo sagrado - agni - que te ilumina. Uma mulher tudo pode, tudo gera e tudo destrói, tudo reinicia e se rende ao ciclo. Feliz dia.
Luz acesa por aqui! 💡 ☀️
Texto lindo, forte e cheio de significados!