Luz, câmera, vegetação
No mundo vegetal não existem protagonistas e coadjuvantes. E está tudo bem
Bem vindo ao Conchas, seu restaurante imaginário e digital preferido.
De alguma forma, nem sei como, aos trancos e barrancos(e barracos), chegamos em dezembro de 2022.
E, como tudo sobre este ano, é completamente atípico: frio em Brasília, Copa do Mundo no deserto, episódios de fascismo no século XXI logo ali, na Asa Norte. Gostaria de estar falando de aniversário (o meu é no sétimo dia de dezembro) e de celebrações e ceia de Natal, lista de presentes e festas.
No entanto, segue sendo da maior importância estar atento e forte, e demonstrar sempre que possível o apoio as pessoas, organizações e empresas que tem um histórico de se posicionar contra toda forma de opressão e tirania, e apoiar as lutas coletivas, principalmente aquelas voltadas para a segurança alimentar, a dignidade humana e o acesso à condições básicas de saúde.
Para o menu de hoje, um texto sobre a beleza única dos vegetais, que, pode não parecer, mas conversa com essa época do ano, e com a própria ideia de combatermos uma narrativa de monocultura, inclusive na mesa.
A proteína de origem animal, tão centralizada e ao mesmo tempo tão banalizada, também está no centro dos problemas políticos, ecológicos e sociais. Então, se a gente pensa bem, privilegiar o mundo vegetal não deixa de ser de uma rebeldia mais que bem vinda.
Luz, câmera, vegetação*
Eu não sou vegetariana. Dito isso, preciso completar que a dieta vegetariana me parece uma evolução e o futuro mais lógico para a vida nesse planeta. Não vou me aprofundar nisso, até porque, tem muita gente com mais competência, experiência e respaldo para falar sobre o assunto.
Entretanto, ao meu ver, existe uma lógica que nos distancia de um consumo maior de vegetais: o protagonismo da proteína animal. Quando você pensa em um cardápio caseiro, ou no menu de um restaurante, quais são os itens em posição de destaque? Existem boas chances de que seus pratos com referenciais mais afetivos sejam compostos por carne, frango, peixe ou porco. Um prato “ só” de arroz, feijão e salada é considerado pobre, apesar de delicioso. Precisa ser assim?
Não precisa. Cozinhamos, hoje, com um pezinho em meio mundo. As receitas e referências visuais se espalham globalmente. Um exemplo ótimo é a recente onda do poke, prato de origem havaiana que coloca, literalmente, um monte de legumes no mesmo pote. E que delícia! Pode ter tofu, cenoura, ervilha torta e cogumelo na mesma cena, sem conflitos. É Ruth Reichl, diva, que me chamou à atenção para a docilidade de uma berinjela, que aceita tantos tipos de cozimento, temperos e texturas. Babaganush, pizza, caponata, moussaka, espetinho? A berinjela, que bela, topa todos os papéis e entra no personagem como ninguém.
No mundo vegetal, as peças teatrais são sempre colaborativas. Só no mundo carnívoro existem monólogos.
E também, que fique claro, não acho que existem substitutos. Um shimeji preto não está em um prato substituindo tiras de carne; ele está brilhando por conta própria. Um burguer de couve flor ou quinoa ou grão de bico não é tão bom quanto um x-tudo, ele é ótimo por si só.
Por essas e outras é que vale a pena dar mais chances para que o mundo vegetal, não necessariamente por ideologia, mas por curiosidade, pelo prazer de deixar que legumes, plantas, fungos, frutas e flores revelem suas infinitas possibilidades caleidoscópicas.
Maripokeanas
(serve duas pessoas famintas)Ingredientes
1 xícara (240ml) de arroz cateto integral (pode usar o arroz que quiser!)
1 pepino japonês em rodelas finíssimas, de molho no vinagre
200 gramas de cogumelo de sua preferência refogado em manteiga, ou óleo de coco, ou azeite (você que vai comer? você decide!)
Manga cortada em cubos, abacate cortado em cubos, tomate cereja, ervilha torta, milho, rabanete fatiado, o que você gostar e estiver na época ou na geladeira
Indispensáveis: shoyu, cebola roxa cortada em tiras, gergelim e cheiro verde (que pode ser cebolinha, salsinha, coentro) e suco de limão. Misture tudo!
Para montar
Em um prato fundo ou bowl grande, faça uma base com o arroz. Vá colocando o cogumelo, os legumes e frutas cortados, pra finalizar, as cebolas com cheiro verde, amendoim se quiser, coco desidratado se curtir (eu amo!) coisas crocantes como chips de batata doce, massa wonton frita, alho poró palha,etc. Como podem ver, vale tudo!
Burguer de couve flor temperadão
(Serve 4 pessoas se montado no pão ou 2 pessoas para comer com salada)Ingredientes
1 arvorezinha de couve flor bem bonita ( as menores são mais saborosas)
1/4 de uma pimenta dedo de moça cortada ( sem sementes para moderados, com sementes para amantes da picância)
Coentro, cebolinha e salsinha picadinhos
1 cebola miúda picadinha
1 cenoura pequena ralada
2 dentes de alho picadinhos
sal, pimenta do reino e demais temperos secos à gosto do freguês
1/2 xícara de farinha de trigo integral ( para mais ou para menos) + para “empanar”
1/3 de xícara de queijo parmesão ralado
1 ovo
Azeite de oliva para fritar
Como faz?
Cozinha a couve flor no vapor ou no microondas até conseguir amassar tudo em forma de areia grossa. Misture com a cebola, cenoura, cheiro verde, temperos, queijo, pimenta, ovo, farinha. Perceba se deu liga, se precisar de mais farinha, manda ver. Formate os burguers, passe em mais farinha ( ou fubá!) e leve à frigideira quente com azeite, deixe dourar de cada lado e sirva com saladinha, ou no pão de burguer, ou com creme de ricota.
*Texto publicado originalmente em 2017.
Cate por aí
Pra hoje, indico três pessoas maravilhosas para seguir e colocar mais colorido e vida no seu prato!
Maga, deusa, força da natureza, nutricionista por formação, padeira e vó do felizardo do Raul, Neide Rigo dispensa apresentações, mas eu poderia falar por horas sobre esse universo encantado onde ela habita, logo ali, no bairro paulistano da Lapa(SP).
Além de alimentar há anos o blog Come-se, ela tem a generosidade de dividir suas descobertas botânicas, experimentos com fermentação e pura alegria de viver em seu perfil no Instagram. Inspiradora!
Eu não a conheço pessoalmente (ainda! Fica aí um pedido pro universo e pros amigos em comum!) a Carolina Dini, mineira que dá vida ao perfil Cebola na Manteiga e a ótima news que é o
! As fotos são um deleita à parte, mas gosto principalmente das boas ideias de receitas e combinações com ingredientes tão acessíveis e comuns quanto cebola. Não deixa de conferir!Engenheira de formação, bonita por natureza e minha prima por sorte nossa, a Thais Marouelli, em sua jornada de alimentação e vida mais consciente, criou o @vgthais, perfil com receitas à base de plantas.
Vale muito a pena conferir, principalmente pela temporada que ela morou e abriu um restaurante popup (acho chiquérremo isso!) em Boipeba, na Bahia. Delícia pura e a cara do verão!
Eu adoro acompanhar o trabalho de Thalita Xavier no instagram e seus vídeos de receita "mais um dia no barraco", veganismo popular, periférico e saboroso! :)